quarta-feira, 8 de setembro de 2010

                                                                                O segredo do tempo é consumi-lo sem percebê-lo.
É fingir-se infinito para não o vermos passar

É fazer-se contar em anos em vez de momentos
Relógio, despertador, cronômetro, calendário

Tudo engodo para imaginarmos prendê-lo, controlá-lo
Ampulheta, único instrumento sincero do tempo

Regressivamente, nos impõe a gravidade

De haver realmente um último grão

Riscando na areia a nossa fragilidade
Mas o tempo é imparcial

Não distingue rico de pobre

Preto de branco, homem de mulher

Devora-se sem escolhas
Matar o tempo é matar-se sem sentido

Perdê-lo é viver em vão
Faz-se devagar nos maus momentos

Depressa quando o queremos

Ponteiro invisível da vida

Peça necessária do fim
A sua fome é insaciável

A sua vontade é determinante

A sua procura é unanime
Se esconde nas sombras que se movem

Nos objetos que não mais servem

Nas pessoas que nunca mais vimos

Na podridão das frutas que não foram colhidas

Nas lembranças já esquecidas
Revela-se as fotos que se desbotam

Nas cartas que amarelam

Nas crianças que crescem

Nas rugas que aparecem

Deixa-nos a esperança de Pandora

Nas ações dos que virão

No nascimento dos rebentos


Paulo Esdras

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